quarta-feira, 2 de junho de 2010

Sobre Fulana

Menina praiana
Pintada de bronze
Na minha memória
Não encontro o teu nome

És rainha do belo
E fruto da arte
Enfim, o elo
Do augusto da tarde

Obra do rei Hélio,
Tua pele é singular
Se ainda a venero
É impossível não lembrar

Sete dias de verão
E fui me apaixonar
Contemplo as estrelas
Esperando te encontrar.

- A. Pacheco.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Teu Passado É O Meu Presente

Já não consigo dormir, tu apareces em meu sono e as circunstâncias transformam aquilo que seria um sonho em pesadelo. Encontrei nas ruas o meu refúgio, aproveito o silêncio da noite e ando sem caminho trilhado. Sinto-me preso, sem voz. Ouço meu coração e tua voz que me faz lembrar o quão longe estás, mesmo estando tão perto. Da lua vem acordes finos que lembram a melodia daqueles tempos.
Às vezes, canso-me de escrever o que poderia simplesmente falar. Parte de mim tem esperança de encontrar-te em uma dessas esquinas desertas. Parte de mim tem saudade do tempo em que dançávamos sem música; de quando mergulhava no teu olhar e podia te conhecer ainda mais. Hoje não te vejo mais. Não sei como és, não sei com quem estás; mas eu sei que lembras, vai passar por isso e vai tentar esquecer, mas no meu egoísmo, não vou deixar.
Meus passos me levaram pra porta da tua casa. Pensei em entrar e te fazer ouvir as histórias que tinha pra te contar, dizer-te o que se passou em dois anos. Entretanto, tudo isso só me faz lembrar que acabou pra ti, mas não pra mim. Talvez não tenhas lido as cartas, talvez tenha desmarcado as datas do calendário; mas ainda estou lá. A aurora começa a surgir. Os primeiros trabalhadores começam a sair de suas casas; está na hora de eu voltar pra minha.
Chego em casa e o mural na parede da sala me recorda aquilo que queria esquecer, só então percebi que ainda tem fotos suas espalhadas pela casa; o retrato ainda está lá, para baixo, mas está. Procuro a minha cama e ainda sinto teu cheiro nos lençóis, um turbilhão de pensamentos invade minha cabeça e, então, percebo que estou em um ciclo sem fim. Tu ainda estás aqui e não há como mudar; não há como voltar atrás.

- A. Pacheco.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Filosofia

Um dia, disseram-me que o amor é uma colisão entre duas pessoas que estão numa mesma rota; destino. Não sei, leitor, se concordas com o que vou falar-te, mas não sou adepto da possível existência de amores múltiplos; entendo que haja um só amor dentre inúmeras paixões.
O real amor é aquele que te faz enxergar os defeitos do seu par como a maior prova de sua identidade humana, pois sem estes, teu par seria a perfeição inexistente no mundo e tu não serias digno de tê-lo ao teu lado. O real amor não é possessivo; não existem dois, mas apenas um.
Qualquer outra paixão pode proporcionar-te a sensação do amor, mas não quer dizer que seja verdadeira. Quando se ama, qualquer coisa é comparada ao teu par e, por mais que detenha adjetivos exclusivos, nada se compara com a pessoa que detém teu coração, leitor.
Amor é doce, calmo e cruel. É único; único. Também eterno, enquanto durar, mas eterno. É antiquado nos tempos de hoje, mas não há definição justa. O que tu estás a ler é um humilde pensamento do poeta que engatinha nos campos da filosofia, mas que não escreve com a razão, sim com a emoção.
Imaginas que sentes; que vives teu amor, não te julgo. Oxalá tivesse eu a resposta desse enigma. Entretanto, a crueldade do amor é tamanha que só nos damos contas que vivemos o verdadeiro quando este chega ao seu fim; só então conseguimos "entendê-lo".
Para que se entenda esse sentimento docemente amargo, é preciso vivê-lo e neste caso, viver compreende todas as suas etapas e a mais difícil destas, de fato, é o fim; mas quem pode dizer que deixou de amar? Até mesmo o ódio é uma forma de amar, embora seja o estado de doença crônico do amor.

- A. Pacheco.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Quero O Eterno

Não procuro aquela divina beleza exterior nas mulheres, também não a ofereço. Todos temos aquilo que nos é deveras necessário. Se não apresento esta beleza de carcaça, de fato, dela não preciso. Entretanto, seria hipocrisia dizer que não aprecio, mas apreciar não exerce um emprego de necessidade senão aos viciados e incontrolados; a estes, tudo é questão de necessidade.
Vivo em um mundo um tanto superficial. Talvez tu, leitor, também vivas neste mundo, mas seria pretensão em demasia da minha parte expor-te a simples verdade, não? É que, por aqui, nem sempre a verdade é bem-vinda. Acredito que, na sua ingenualidade, ela pode ferir e magoar. Contudo, não seria a verdade que iria nos libertar dos sofrimentos? Que dilema. Confio na verdade, mas ainda insisto: não é o que a maioria procura por aqui.
Um pouco de sensasionalismo pode, leitor, fazer-te mudar tuas opiniões em segundos. Se achas que queres deveras a verdade, começa a procurá-la em ti. Terias tu resignação para analisar-te? Terias tu humildade para mudar? A forma mais simples de se encontrar é de dentro para fora. Eu disse a mais simples, entretanto, a mais fácil é a que vem de fora para dentro; já vem pronta.
Inteligência, humildade, bom-humor, resignação... são algumas coisas que procuro em mulheres. Não quero bocas de plásticos, nem sombrancelhas arqueadas eternamente. Não a quero mulher do mundo, a quero minha.
Necessito daquela que seja mais completa, humana e natural. Não preciso de mulheres de plástico, sem vida. Dessas, este mundo está cheio. Quero a ímpar, a mais mulher. Quero a felicidade em palavras; a beleza em atos; sinceridade. O tempo é ladrão e rápido leva a beleza, mas o que é da alma, é eterno.

- A. Pacheco.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

A Paraense

Assim que surge o Sol, a rua fica tomada pelo seu perfume; aquele tradicional cheiro do Pará que a enche as barracas do Ver-o-Peso. A sua essência dá orgulho de ser deste terra; os senhores fecham os olhos e vêem a bandeira vermelha de faixa branca e estrela azul, exemplo claro de sinestesia.
Esta vitória-régia que anda dançando o carimbó é a versão feminina do boto, arrasta os corações dos cabocos enquanto se encarrega da dança. Aliás, todo sábado lá está ela no terreiro exercendo o seu ofício. Dizem que, durante toda uma noite, ela dançou da marujada ao samba de catete. Os índios que a conhecem dizem que ela é broto da terra; mais uma lenda.
Os olhos da cor do açaí são, de fato, penetrantes. A voz quente como o clima da região chama a atenção em todo o território nacional. Seus traços corporais atraem olhares e arrancam "éguas" das bocas dos cabocos. Os cabelos encaracolados são o seu tesouro.
Ela brinca; usa e abusa da sua magia sobre os homens. Arruma-se para ouvir os assobios alheios e os ignora, rindo por dentro. Faz caras e bocas para conseguir o que quer e, quando consegue, esnoba.
Ela é caboca. É donzela. É sozinha no meio da multidão. É amante da paixão. É ingenuamente maliciosa. Ela é da cor do pecado. É trabalhadora, independente, forte. É do norte; paraense.

- A. Pacheco.

sábado, 1 de maio de 2010

Santa Ironia

Não interprete a situação de teus tormentos como o final de tuas esperanças, entenda que se vos deixo é porque minha vontade é superior à tua. Minha liberdade plena permite que eu me ausente de tua presença a partir do momento que assim eu quiser.
A vida continua engraçada como sempre foi; ontem era eu quem padecia sob as tuas ordens, mas, com o tempo, aprendi a controlar-me. Já tenho o antídoto do teu veneno. Ainda assim, não deixo de querer-te bem - ou melhor, não te quero mal -, a prova disso é que, hoje, enquanto sofres o que eu supostamente sofri, podes contar com a minha misericórdia, mas só com esta; não me peça mais que isso.
Sempre foste iludida pela história da Humanidade, não és a rainha do Universo que pensas ser. Creio que é justo o que se sucede. Imagines o desequilíbrio que tomaria o planeta se vós, mulheres impuras, fossem todas governantes. Utilize do teu bom-senso para entender o quete digo. Não entenda como um julgamento machista, pois se somente nós exercessemos nossas influências, o planeta seria igualmente caótico. Ninguém é santidade; ninguém é rei e rainha.
Mereces estas dores, mas juro não machucar-te (tanto). Aliás, nada farei; o desprezo age por si próprio.

- Ivan Bayer (pseudônimo).

terça-feira, 27 de abril de 2010

Amizades

Algumas existem há doze anos, outras há cinco e outras há menos ainda; mas todas com importância descomunal. Algumas dançam, outras lutam e ainda há aquelas que se empenham na comédia necessária das conversas corriqueiras, mesmo que estas últimas não sejam mais tão corriqueiras assim.
Talvez, leitor, não tenhas noção do que estas relações são capazes, por não tê-las ou simplesmente por não valorizá-las. Mas não te culpes, pois, por tempos, eu não as tinha dado as suas devidas importâncias individuais; digo ainda que me foi preciso perder a convivência das mesmas para poder entender as consequências de ter estas amizades.
É necessário aconselhar-te, leitor, a olhar tuas amizades e mesmo as pessoas que te querem bem, pois muito estas podem melhorar a tua pessoa. É claro que ficarás aborrecido quando alguma amizade apontar alguns pontos fracos de tua personalidade, mas também dever ter bom-senso para fazer a tua auto-análise; assim como eu fiz e faço.
Alguns acham que os amigos reais são aqueles que em tudo nos apoiam, mas, na realidade, os verdadeiros amigos são aqueles que apoiar-te-ão quando for o correto e repreender-te-ão quando for necessário; em resumo, são justos.
Graças ao Bom Senhor, eu posso dizer que sou munido destas amizades. Aliás, humildemente ofereço este simples texto aos meus reais amigos e exponho-lhes que quando estes precisarem, de certo terão minha ajuda. Porf fim, a única palavra que me resta a dizer-lhes é: obrigado.

- A. Pacheco.